Sem homem não há cultura. Mas sem cultura não há homem. (…)
No último milhão de anos desapareceram numerosas espécies animais, ao passo que o homem se perpetuou. Por causa das mudanças no meio ambiente, houve animais que não resistiram e se extinguiram. O homem, esse, vai aguentar tudo, pois sabe fabricar não só as suas armas e os seus utensílios, mas também aquilo de que carece para sobreviver num meio ambiente diferente. De facto o homem é o único exemplo conhecido, no mundo vivo, de um ser que logrou a proeza de criar o seu próprio meio ambiente.
Ignora-se em que momento o homem perdeu os seus instintos. Este facto capital deve ter-se produzido cedo. Foi ele que permitiu que nos tornássemos homens. A ave, colocada perante os materiais que constituirão o seu ninho, põe-se a construí-lo, impelida por uma força a que não consegue subtrair-se. Por muito admirável que seja o seu ninho, o animal que o edificou não passa de um autómato: ele fá-lo como o construíram todos os seus antepassados, sem jamais imaginar a mínima alteração.
O homem, se não aprender, não sabe que fazer dos materiais com os quais se edifica a mais rudimentar das choças. Ele não sabe fabricar um utensílio ou acender o lume por instinto. É necessário inclusivamente ensiná-lo a andar. (…) Em virtude do seu legado cultural, o homem afastou-se do animal, mas tornou-se estreitamente dependente dos outros homens. Para que se converta realmente, é indispensável que viva a sua existência social no meio dos seus, sob a influência de todos os estímulos que lhe fornecem a sua família e a sua tribo. (…)
R. Clarke, o nascimento do Homem