A primeira aula de filosofia

Vamos dar início ao curso de Introdução à Filosofia, colocando e procurando resolver algumas das questões principais desta disciplina. Vós vindes a estas aulas, e eu também, para fazermos algo juntos. Di-lo o tema: vamos fazer filosofia. A filosofia é, antes de mais, algo que o homem faz, que o homem tem feito. A primeira coisa que devemos tentar, pois, é definir esse “fazer” a que chamamos filosofia. Devemos dar pelo menos um conceito geral da filosofia e talvez fosse essa a incumbência desta primeira aula: a de explicar e de expor o que é a filosofia. Mas isso é impossível. É absolutamente impossível dizer de antemão o que é filosofia. Não se pode definir a filosofia antes de a fazer; como não se pode, em geral, definir nenhuma ciência, nem nenhuma disciplina, antes de entrar directamente no trabalho de a fazer. Uma ciência, uma disciplina, um “fazer” humano qualquer, recebem o seu conceito claro, a sua noção precisa, quando o homem já domina esse fazer. Só sabereis o que é filosofia quando fordes realmente filósofos. Por conseguinte, não posso dizer-vos o que é filosofia. Filosofia é o que vamos fazer juntos, durante este curso na Universidade de Tucumán. Que quer isto dizer? Quer dizer que a filosofia, mais do que qualquer outra disciplina, necessita de ser vivida. Necessitamos de ter dela uma ‘vivência’. C…) Para vivê-Ia, é indispensável entrar nela. C…) Só então essa definição terá sentido, estará cheia de sentido, porque terá dentro dela vivências pessoais. Ao contrário, uma definição que se dê de filosofia, antes de a ter vivido, não pode ter sentido, resultará ininteligível.

M García Morente, Lecciones Preliminares de Filosofia, Buenos Aires, Ed Losada, 1943, pp 1-2

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