A ideia de que alguém poderia fabricar uma cópia de nós, um gémeo artificial, é repulsiva à partida. Repulsiva, antes de mais, porque não estamos habituados a ela. Depois, porque ela contraria a ideia que fazemos de nós próprios (que se baseia em grande parte na nossa diferença individual); porque ela criaria um ser com o qual partilhamos algo de extremamente íntimo, mas que nos seria completamente estrangeiro; porque sentiríamos essa criação como algo de antinatural e a nossa cultura privilegia o natural em detrimento do artificial; porque se trataria de uma pessoa feita em série, cuja liberdade – ainda que apenas na sua aparência – nos pareceria limitada à partida, sem a poesia do acaso; porque nós e os outros olharíamos para essa pessoa de uma forma diferente, transformando-a através desse simples olhar num monstro.Este é o domínio do pesadelo, o medo do monstro – monstro que, neste caso, teria o horror suplementar de ter a nossa cara.No entanto, na realidade não é disto que se trata. A clonagem não permite criar um ser adulto, à nossa imagem e semelhança. Permite sim – quando muito, se se comprovar que funciona com seres humanos – criar um bebé que será em tudo igual ao bebé que nós fomos. É um gémeo, mas um gémeo de outra geração, com vinte ou quarenta anos de diferença. Para muitos, o horror não diminuirá por esse facto. Mas será que isso é muito diferente de ter um filho? Claro que objectivamente é diferente. Um filho é sempre filho de duas pessoas, cujos patrimónios genéticos foram baralhados para dar origem a uma pessoa original, surpreendente em todos os aspectos. Mas será que não nos poderemos habituar um dia a ver (ter) filhos de um só progenitor, da mesma forma que nos habituámos às famílias monoparentais?No fundo, sendo a educação – como parece cada vez mais – muito mais importante que a herança genética, não estaremos a recusar algo que tem apenas uma importância marginal? Não se falou dos mesmos terrores há vinte anos a propósito dos bebés-proveta? Não se escreveram páginas e páginas sobre o horror e a solidão gelada de ser fertilizado num tubo de ensaio – estéril – em vez de dar os primeiros passos para a vida no seio da sua mãe genética? E, apesar disso, a fertilização in vitro não entrou nos nossos costumes e na nossa cultura sem atritos? (…)Um clone será necessariamente uma outra pessoa, porque a sua idade será diferente, porque a sua gestação, nascimento, educação, serão diferentes, porque a sua experiência será diferente. A sua consciência será diferente porque a sua circunstância, a sua história será diferente. Para mais, tudo o que hoje se sabe sobre o cérebro leva a pensar que é a experiência que molda o cérebro e que cria os padrões a que chamamos pensamento, memória e escolha – e não os genes.
José Vítor Malheiro, Público
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José Vitor, aqui quem fala é Thales Ribeiro sou Pouso Alegrense de Minas Gerais, e na minha escola a CNEC, temos todo ano uma atividade chamada jogos da ONU, onde simulamos os comitês mais importantes da ONU(Assembléia Geral, Conselho de Segurança, e o Econômico Social), e cada aluno reprensenta um país difente, esse ano o tema da Assembléia Geral é a clonagem humana e estou vindo aqui para te agradecer, pois achei muito pertinente o seu comentário e irei usá-lo no dia dos Jogos, e acho importante ver pelo lado do futuro da humanidade que sofre tanto por doênças como leucemia, AIDS e tantas outras, e essas pesquisas nos trarão novas perspectivas de cura. Eu represento esse ano a Alemanha e com ela defenderei que os clonagem começem agora mesmo que com muito mais cautela e segurança. Muito Obrigado meu e-mail é thalescorrea_pa@hotmail.com se quizer entrar em contato me mande um e-mail seria interessante conversarmos sobre o tema abraço!