Nathaniel Meals, da Universidade de Duquesne, na Pensilvânia, publicou recentemente um artigo no Pittsburgh Post-Gazette no qual defende a ideia de que as crianças são filósofas natas e que, por isso, a Filosofia deveria ser ensinada desde cedo nas escolas.
A ideia aceite é a de que a Filosofia deve manter-se no domínio universitário devido a ser “esoteric, impractical, vague, a useless pastime at best, a shape-shifting unsolvable — and therefore nonsensical — puzzle at worst.” Estes preconceitos relativamente à Filosofia acabam por ditar a sua ausência precoce das salas de aula. Além disso, existe a ideia errada de que as crianças não possuem a capacidade cognitiva de reflexão prolongada sobre noções consideradas filosóficas, tais como as relacionadas com a Metafísica, a Moral, a Linguagem ou a Lógica.
Nada pode estar mais longe da verdade, segundo Meals: “Children are the ideal philosophers insofar as they are perpetual questioners and live in a state of ongoing wonder about the world. If, according to Plato, philosophy begins in wonder or puzzlement, then philosophy should begin in childhood, a time when the enigmas and riddles of the universe intrigue us most. Furthermore, if philosophical matters should be discussed in a dialogue, also suggested by Plato, then who better to engage in such matters than children, for whom speech is a bottomless trove of treasures and inquiry the means of discovery?”
Mais: as crianças, tal como os melhores filósofos, não têm problemas em fazer perguntas, prestam atenção e não descansam enquanto não obtiverem respostas ao que querem saber. Para lá desta curiosidade, não estão contaminadas com preconceitos ou dogmas, o que lhes confere uma neutralidade mental essencial para debaterem hipóteses e ideias, independentemente de parecerem absurdas.
Assim, Meals defende que: “Conducted properly, philosophical discussions, if nothing else, exercise and cultivate critical reading and thinking, two faculties that increase aptitude to learn at increasingly higher levels of education. Moreover, philosophy stands as the quintessential interdisciplinary subject. There is scarcely a topic located outside its ambit. (…) If we want our children to become intelligent, sensitive and original adults, we must expose them at an early age to matters that require these qualities.”
Sim, o perguntar é inato às crianças.
Todavia, filosofar com as crianças, fazê-las demorar no processo de pensamento: isso nem sempre é fácil e exige um treino, por parte do facilitador, muito exigente e rico em ferramentas. Uma espécie de cartola mágica, de onde têm que saltar coisas, perguntas, estímulos que nos levem mais longe – que nos levem a filosofar!
Sim, concordo que seja exigente e tem de ser, de modo a que a FcC não seja confundida com mais uma actividade lúdica gira, sem valor intrínseco no desenvolvimento cognitivo, lógico, argumentativo e sobretudo crítico. E que o facilitador tenha preparação e formação adequadas é inquestionável. Quanto à metáfora da cartola mágica, é bom que esta, mais do que proporcionar surpresas, possibilite ao facilitador estar munido de estratégias mentais que lhe permitam adaptar-se rapidamente àquilo que as crianças e os jovens querem debater. Podemos preparar sessões, mas é mais importante saber preparar o improviso,já que de nada serve levar a papa toda feita se depois o público jovem se interessar por outra temática e a quiser explorar.
O improviso dá muito trabalho. A magia da cartola está aí.
Se filosofar é tão inato para as crianças por que razão a filosofia para crianças é algo difícil de acontecer?
Eis uma questão muito interessante, Joana Rita, mas precisa de ser clarificada. Está a referir-se a obstáculos de ordem institucional? Ou na operacionalização com as crianças em si? Ou a ambas as situações?
Na operacionalização das metodologias: pois estas exigem mais do que dar espaço e tempo para o perguntar, exigem o trabalho de conceptualizar, problematizar e aprofundar.