Causalidade em David Hume

A tese fundamental de Hume é que a relação entre causa e efeito nunca pode ser conhecida a priori, isto é, com o puro raciocínio, mas apenas por experiência. Ninguém, posto frente a um objecto que para ele seja novo pode descobrir as suas causas e os seus efeitos, antes de os ter experimentado e apenas ter raciocionado sobre eles. (…)
Ora isto significa que a conexão entre causa e efeito, mesmo depois de ter sido descoberta por experiência, permanece privada de qualquer necessidade objectiva. (…)
Que o curso da natureza possa mudar, que os laços causais que a experiência nos testemunhou no passado possam não se verificar no futuro, é hipótese que não implica contradição e que por isso permanece sempre possível. Nem a contínua confirmação que a experiência faz, na maior parte dos casos, das conexões causais muda o caso: porque esta experiência diz sempre respeito ao passado, nunca ao futuro. Tudo aquilo que sabemos pela experiência é que, de causas que nos parecem semelhantes, esperamos efeitos semelhantes. Mas precisamente esta suposição não é justificada pela experiência: ela é antes o pressuposto da experiência, um pressuposto injustificável.
N. Abbagnano, História da Filosofia, Volume VII, Editorial Presença
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2 Comments

  1. Poxa, respeito demais o Abbagnano, mas não foi isso que li em Hume em seu Investigação Acerca do Entendimento Humano.

    Para Hume, em meu entendimento, nem pela experiência e nem pela razão pura é possível conhecer a verdadeira causalidade. A experiência nos daria a base para uma percepção racional que ele chama de Associação (ou Conexão) de Idéias, que para ele podem ser de três tipos: semelhança, contiguidade e causa e efeito.

    Mesmo amparado numa experiência que nos faz jurar que depois de um evento o outro o sucederá, nada em nós é capaz de conhecer seguramente o que faz com que o evento posterior tenha o anterior como antecedente. A indução nos leva a crer que exista uma ligação necessária e suficiente neles, mas nada garante que no próximo evento ele se repetirá.

    Talvez Abbagnano tenha dito nesse trecho que o conhecimento pela experiência só nos dá possibilidade de dizer algo sobre o que já foi e não fazer previsões considerando-o um conhecimento prévio que se torna condição apriorística.

    Se for, concordo.

    Abraços e parabens pelo Blog.

    Gilberto
    http://miranda-filosofia.blogspot.com

  2. O seu comentário é certeiro. O nosso erro foi não prever o uso ambíguo da palavra experiência. Julgo que no texto a palavra é usado num sentido diferente daquele que deve ser quando se escreve acerca da obra de David Hume. Parece que o autor a está a utlizar no sentido de «hábito». Mas como ainda não localizei o livro do Abbagnano não posso confirmar essa duplicidade de utilização da palavra no texto todo sobre Hume. Entretanto, fica já estabelecido que é pouco pedagógico usar este texto (com esse uso da palavra)pois levantará confusões. Obrigado pela dica.

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