O professor catedrático Alberto Barros vê na hipótese de investigar em embriões híbridos um avanço e diz que as doenças exigem um combate sem tréguas.
“As técnicas de procriação medicamente assistida não podem ser utilizadas com o objectivo de originarem [embriões] híbridos”, define a lei portuguesa, que prevê pena de prisão de um a cinco anos para quem infrinja a proibição. A possibilidade aberta pela lei inglesa, de juntar material biológico animal e humano, criando embriões híbridos, divide opiniões em Portugal. Entre os especialistas há quem diga que se deu um passo perigoso e quem defenda que só com novas técnicas a ciência progride.
Um percurso iniciado em 1996 com a clonagem da ovelha Dolly
Cíbridos
São embriões obtidos através da mesma técnica que permitiu clonar a ovelha Dolly (na foto), dita de “transferência nuclear de células somáticas” (SCNT). Mais precisamente, um célula humana é fundida com um ovócito animal ao qual foi previamente retirado o seu núcleo (que contém 99,9 por cento do ADN do animal). O “cíbrido” resultante tem 99,9 por cento de ADN humano e 0,1 por cento de ADN animal (uma vez que as mitocôndrias, as “baterias” da célula, provêm do ovócito animal e contêm uma pequena quantidade de ADN). É neste tipo de embriões que os cientistas esperam recolher as células estaminais embrionárias humanas para estudar graves doenças hoje sem tratamento nem cura e desenvolver novos medicamentos contra elas (ou mesmo, um dia, órgãos artificiais cultivados em laboratório que possam ser implantados em doentes).
Embriões humanos transgénicos
São embriões humanos nos quais é injectado ADN animal. O inverso – embriões animais (sobretudo de ratinho) onde são injectados genes humanos para obter modelos animais de doenças – é uma prática corrente há anos. No âmbito da nova lei, porém, sendo humano o embrião, não será permitido o seu desenvolvimento para além de 14 dias, nem a sua implantação no útero de uma mulher ou de um animal.
Quimeras humanas
São embriões humanos nos quais são introduzidas algumas células animais. As quimeras animais, em que algumas células humanas são introduzidas em embriões de animais, já são utilizadas na investigação científica.
Híbridos verdadeiros
São embriões obtidos por cruzamento de gâmetas humanos – ou seja, de espermatozóides ou ovócitos – com gâmetas animais. A criação deste tipo de híbridos já foi autorizada no Reino Unido, com esperma humano e ovócitos de hamster, para determinar a qualidade do esperma humano – e na Austrália, a lei também permite a atribuição de licenças para o mesmo fim. Até agora, a lei britânica apenas permitia o seu desenvolvimento até ao segundo dia; a nova lei prolonga o prazo para 14 dias. A.G.
Publicado originalmente no jornal Público, sem link, a 25 de Maio de 2008