A decisão parece, pois, ser voluntária. Decidir e agir voluntariamente não é, contudo, a mesma coisa, pois, a acção voluntária é um fenómeno mais abrangente. É por essa razão que ainda que tanto as crianças como os outros seres vivos possam participar na acção voluntária, não podem, contudo, participar na decisão. Também dizemos que as acções voluntárias dão-se subitamente, mas não assim de acordo com uma decisão.
Os que dizem que a decisão é um desejo, ou uma afecção, ou um anseio, ou uma certa opinião, não parecem dizê-lo correctamente, porque os animais irracionais não tomam parte nela. Por outro lado, quem não tem autodomínio age cedendo ao desejo, e, desse modo, não age de acordo com uma decisão. Finalmente, quem tem autodomínio age, ao tomar uma decisão, mas não age, ao sentir um desejo. (…)
Que poderá ser, então, uma decisão? (…) Uma decisão parece tratar-se de um acto voluntário, mas nem todo o acto voluntário parece resultar de uma decisão. Implicará, então, uma decisão sempre uma deliberação prévia? Na verdade, uma decisão implica um sentido orientador e um processo de pensamento. É o que parece também deixar entender o nome, como sendo uma escolha preferida em detrimento de outras preteridas. (…)
Nós deliberamos sobre aquelas coisas que nos dizem respeito e que dependem de nós, a saber sobre as acções que podem ser praticadas por nós. (…) Cada um de nós delibera sobre as acções que podem ser praticadas por si. (…) O deliberar é a respeito das situações que ocorrem o mais das vezes, mas relativamente às quais é incerto qual será o seu resultado. Isto é, a respeito das situações em que há indeterminação. (…) O que está na situação de deliberar parece investigar e analisar do modo referido como se estivesse a investigar e a analisar um diagrama (parece que nem toda a investigação é uma deliberação, como no caso das matemáticas, mas toda a deliberação é uma investigação), e o passo final na ordem da análise é o primeiro na ordem da execução.