“Don’t Look Up“, recentemente disponível na Netflix, realizado por Adam McKay, é uma sátira à forma como a sociedade contemporânea lida com os factos e o conhecimento científico, amalgamando-os com o universo das selfies, dos likes, dos “alternative facts” e das audiências.
Face à possibilidade de uma extinção em massa no planeta, obviamente com humanos incluídos, este filme joga com a dificuldade em passar factos científicos para o público em geral, intoxicado por teorias da conspiração, interesses políticos, redes sociais, manipulação e ignorância pura e dura. A crítica à herança pós-trumpiana é uma constante.
Um excelente registo cinematográfico que lembra uma forma moderna da Alegoria da Caverna de Platão, e que permite abordar questões preementes no âmbito filosófico:
- Até que ponto somos capazes de distinguir proposições científicas de pseudocientíficas?
- Qual o papel das redes sociais na elaboração/deturpação da Verdade?
- Por que razão os factos deixaram de ser suficientes para persuadir?
- Será o conhecimento científico independente do poder político? Se não é, deveria ser?
- Será positiva a transparência na divulgação das descobertas científicas ao público? Ou esta informação deveria ser filtrada?
- Terão os investigadores obrigação ética de divulgar as suas descobertas ao público? Ou a sua divulgação é devida aos financiadores (públicos ou privados)?