Filosofia com Crianças: é assim tão diferente?

É assim tão diferente trabalhar filosofia com crianças?

Não, não é assim tão diferente. Aliás, não é preciso mudar rigorosamente nada no trabalho filosófico, simplesmente porque o princípio elementar subjacente é o de estimular o pensamento próprio e esse é transversal à filosofia com crianças, jovens e adultos.

Mas os miúdos percebem a filosofia?

Na Filosofia com Crianças não se ensina filosofia, não se despejam sistemas ou teorias e por isso nada há a perceber. Não se pretende criar jovens cartesianos ou hegelianos, mas crianças curiosas, críticas e determinadas a querer pensar por si mesmas.

E o que é que se dá nas sessões com crianças?

Não se dá nada, embora se receba muito. Não há conteúdos, há debate de ideias, argumentos e contra-argumentos, estímulo da reflexão. Claro que nada disto é feito no vazio, mas muito disto é feito num improviso ensaiado assente nas participações das crianças. Podemos ter uma data de ideias preparadas, rumos de pensamento previstos, chegarmos lá e surgem ideias melhores, muitas vezes sugeridas pelos participantes e vamos por aí. O importante é ir e não impor um caminho. Porque se o impusermos, o mais certo é ser o nosso caminho e não o deles. E estamos lá por eles e com eles a filosofar.

Preparamos textos, pequenas animações, filmes, imagens e delineamos linhas possíveis de análise, de questionamento. Mas são elas que decidem e que veem o que há de interessante no que lhes levamos. E pode nem ser o caminho que previmos inicialmente, mas é preciso aproveitar o factor que as motivou a querer segui-lo.

Como se avalia o desempenho dos participantes?

Um dos mais vulgares erros na Filosofia com Crianças é a ideia de que o trabalho desenvolvido deve ser avaliado de igual modo ao de outras áreas ou disciplinas. Nada de mais errado. Aquilo que os participantes ganham não é propriamente avaliável em termos quantitativos, como num teste ou uma ficha de trabalho. Os ganhos são visíveis a um outro nível, como o desenvolvimento do hábito de perguntar, de querer saber mais, de exigir e apresentar fundamentações, de querer clarificar conceitos, de querer intervir. São competências transversais a qualquer área disciplinar, criando pessoas mais activas intelectualmente.

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