A ideia de que a filosofia é determinada por uma família fixa de problemas com critérios postos de comum acordo para decidir quando tais problemas estão resolvidos, e de que há um sentido claro em que o progresso se fez e em que se chegou a uma doutrina estabelecida, está ela mesma em debate. Em primeiro lugar, mesmo se existisse uma família mais ou menos fixa de problemas e respostas filosóficas – toscamente designados por seus principais tópicos –, esses problemas e respostas assumiriam diferentes formas dependendo do esquema geral de pensamento dentro do qual um escritor os aborda. Esse esquema de pensamento impõe suas próprias exigências sobre as soluções aceitáveis aos problemas supostamente padronizados, e logo não haverá critérios postos de comum acordo para o progresso filosófico enquanto houver diversos esquemas de pensamento filosófico, como acontece agora. Assim, um dos benefícios de se estudar textos históricos (…) é que chegamos a ver como as questões filosóficas podem assumir uma forma diferente por causa do esquema de pensamento de dentro do qual provêm, e como são de factos moldadas pelo esquema. E isso é esclarecedor, não apenas em si mesmo, na medida em que nos revela diferentes formas de pensamento filosófico, mas também porque nos instiga a considerar por oposição nosso próprio esquema de pensamento, talvez ainda implícito e ainda não articulado, do interior do qual hoje fazemos nossas perguntas. E essa auto-elucidação nos ajuda a decidir quais questões queremos realmente resolver, sobre quais delas podemos razoavelmente esperar alcançar um acordo, e muito mais.
John Rawls, História da filosofia moral, tr. Ana Aguiar Cotrim, Martins Fontes, p. 22.
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