Donde deriva esta incapacidade da estética para fornecer uma interpretação teórica do sentir contemporâneo? Por que razão parece este escapar à apropriação intelectual da experiência estética? Por que razão noções como a de vida e a de forma, faculdades como o conhecimento e a vontade parecem inadaptados para conseguirem alcançar as características peculiares da sensibilidade do século XX? Por outras palavras, por que razão os instrumentos teóricos fornecidos por Kant e Hegel, o juízo e a dialéctica, se revelam incapazes de suportar o impacte de uma experiência que já não pode ser referida nem como um caso particular do universal, nem como a superação da contradição? (…) O sentir do século XX (…) move-se numa direcção oposta à conciliação estética, no sentido da experiência de um conflito maior que a contradição dialéctica, no sentido da exploração da oposição entre termos que não são entre si simetricamente polares. Toda esta grande questão filosófica, que não hesito em considerar a mais original e a mais importante do nosso século [XX], tem a ver com a noção de diferença, entendida como não-identidade, como uma dissemelhança maior do que o conceito lógico de diversidade e do conceito dialéctico de distinção. Por outras palavras, a integração da diferença na experiência assinala o abandono tanto da lógica da identidade aristotélica como da dialéctica hegeliana.
Mário Perniola, A estética do século XX, tr. Teresa A. Cardoso, Editorial Estampa, p. 156.
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