O estabelecimento destes cânones da investigação científica deu origem à constituição de uma das mais importantes e difundidas concepções da Filosofia da ciência, o indutivismo, que se pode sintetizar enunciando os seus princípios fundamentais (cf. Harré, 1978, p. 42): antes de mais, o próprio princípio de indução, que estabelece que há uma forma de, a partir da acumulação de factos singulares, inferir enunciados universais, de tal modo que de enunciados verdadeiros que descrevem observações e experiências é possível inferir leis; seguidamente, o princípio de acumulação, que considera o conhecimento científico como o resultado de factos bem estabelecidos, a que progressivamente se acrescentaram outros sem que os primeiros se alterassem; por fim, o princípio de confirmação, que articula a plausibilidade das leis com o número de instâncias a que o fenómeno a que se refere a lei foi submetido. Trata-se, como nota Harré, de ‘uma sedutora teoria da ciência.
Parece uma concepção sólida, precisa, empiricamente apoiada. Os cientistas são vistos como obstinados colectores de factos, generalizando-os em leis, acumulando cada vez mais factos no laboratório. Se é possível inferir leis da acumulação de factos, é depois possível deduzir factos a partir das leis, e o conteúdo das leis consiste apenas em factos’ (ibid., pp.42-43).
Manuel Maria Carrilho, A Filosofia das Ciências, de Bacon a Feyerabend,
Editorial Presença