Dizem que ordenar que as pessoas ajam sempre com o objectivo de promover os interesses gerais da sociedade é exigir demasiado. Mas dizer isto é perceber mal o próprio significado de um padrão moral e confundir a regra da acção com o seu motivo. Compete à ética dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por meio de que teste podemos conhecê-los, mas nenhum sistema de ética exige que o único motivo do que fazemos seja o sentimento do dever; pelo contrário, noventa e nove centésimos de todas as nossas acções são realizadas por outros motivos – e bem realizadas, se a regra do dever não as condenar. É extremamente injusto para o utilitarismo que esta incompreensão específica suscite uma objecção, visto que os moralistas utilitaristas foram além de quase todos os outros ao afirmar que o motivo, embora seja muito relevante para o valor do agente, é irrelevante para a moralidade da acção. Aquele que salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente certo seja o seu motivo o dever, seja a esperança de ser pago pelo incómodo (…).
Stuart Mill, Utilitarismo, tr. Pedro Galvão, Porto Editora, pp. 58, 59.
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