2) Conteúdo da consciência moral. – A presença da consciência moral, no homem, implica a existência de um conjunto complexo de elementos racionais (juizos e noções), afectivos (sentimentos) e activos (intenções, desejos, vontade).
a) os juízos precedem e seguem o acto moral. Antes do acto dizem-nos se ele é bom ou mau, se deve ser praticado ou evitado. Depois do acto, aprovam ou reprovam, conforme este é julgado bom ou mau. Estes juízos subentendem, por sua vez, um conjunto de noções, tais como: bem e mal, coragem e covardia, dever e direito, responsabilidade e sanção, etc,
b) Os sentimentos morais comportam, antes do acto: a atracção pelo bem, a repulsão pelo mal; a simpatia, a antipatia, ou a indiferença pelo objecto da acção moral, etc. Depois do acto: satisfação, alegria, orgulho pelo dever cumprido, ou pelo bem realizado; preocupação, vergonha, remorso ou arrependimento, pelo mal que se praticou.
O remorso e o arrependimento são dois sentimentos morais fundamentais. O remorso é o sofrimento que atinge a consciência, por efeito de uma falta praticada que ela crê irreparáveI. O remorso bloqueia a consciência, encerrando-a no passado e tornando-a escrava de um sofrimento sem remédio. O remorso é um sentimento estéril.
O arrependimento é o sentimento que se apodera da consciência, perante o mal praticado, mas que ela crê reparável. O arrependimento envolve pois a decisão de reparar a falta, ou, se a reparação não é possível, de a resgatar pela prática de actos valiosos, o que importa total
modificação no modo de agir e de ser,
c) Os elementos activos consistem especialmente nos actos de vontade, pelos quais a consciência se torna sucessivamente prescritíva, imperativa e executória.
Como escreve um autor: «A consciência moral reclama a vontade. A ordem dos valores revelada à consciência será estéril se não intervier um terceiro poder que não é nem a tendência cegamente dirigida para o valor, nem a consciência reveladora do valor, mas a decisão do eu autónomo que opta deliberadamente pelo valor. É verdadE que esta opção não necessita de ser a longo prazo: a vontade moral não estabelece planos quinquenais; basta-lhe dizer «sim» de cada vez que a clara consciência o exige», (Ivan Gobry, Les niveaux de la vie morale, pág. 43-44).
A vontade intervém na vida moral, quer em relação com os fins – intenções ou projectos – do sujeito (vontade de fazer, vontade de ser ou de tornar-me isto ou aquilo) ; quer em relação com os meios (realização das tarefas indispensáveis à efectivação dos fins, projectos ou intenções).