A confirmação de uma hipótese por uma instância depende em grande parte de traços característicos da hipótese que não a sua forma sintáctica. Que um dado pedaço de cobre conduza a electricidade aumenta a credibilidade de afirmações de que outros pedaços de cobre conduzem a lectricidade, e confirma assim a hipótese de que todo o cobre conduz a electricidade. Mas o facto de que uma determinada pessoa nesta sala é um terceiro filho não aumenta a credibilidade de afirmações de que outras pessoas que estão agora nesta sala sejam terceiros filhos, e não confirma assim a hipótese de que todas as pessoas nesta sala são terceiros filhos. E no entanto, em ambos os casos, a nossa hipótese é uma generalização de uma afirmação de provas. A diferença é que no primeiro caso a hipótese é uma afirmação de tipo legal («lawlike»), ao passo que no segundo a hipótese é uma generalidade meramente contingente ou acidental. Só uma afirmação de tipo legal – não importando a sua verdade ou falsidade ou a sua relevância científica – é apta a receber confirmação a partir de uma instância; afirmações acidentais não o são. Temos então com certeza de buscar um meio de discernir entre afirmações de tipo legal e de tipo acidental. (…)
Suponha-se que são verdes todas as esmeraldas examinadas antes de um momento t. Assim, no momento t,as nossas observações apoiam a hipótese de que todas as esmeraldas são verdes; e isto está de acordo com a nossa definição de confirmação. Os nossos dados de prova asseveram que a esmeralda a é verde, que a esmeralda b é verde e etc.; e que cada um deles confirma a hipótese geral de que todas as esmeraldas são verdes. Até aqui tudo bem.
Permiti-me porém introduzir um outro predicado menos familiar do que «verde». É o predicado «verdul» («grue»), que se aplica a todas as coisas examinadas antes do momento t, no casode serem verdes, e também a outras coisas, no caso de serem azuis. Temos, então, no momento t, para cada afirmação a asseverar que uma dada esmeralda é verde, uma prova paralela a asseverar que é verdul. E as afirmações de que a esmeralda a é verdul, que a esmeralda b é verdul e etc. confirmam, cada uma delas, a hipótese geral de que todas as esmeraldas são verduis. assim, e segundo a nossa definição, a previsão de que todas as esmeraldas posteriormente examinadas serão verdes e a previsão de que serão todas verduis são igualmente confirmadas pelas afirmações de provas que descrevem as mesmas observações.
Nelson Goodman, Facto, ficção e previsão, Editorial Presença, pp. 85-87.
Não entendi porque esse problema da indução está classificado como “novo” neste trecho destacado do livro. Embora não tenha lido toda a argumentação do autor, entendo que a parte destacada deveria trazer mais dados a respeito da tese apresentada.
Se a tese centra-se neste trecho, concluo que o problema da indução apresentada não seja novo, pois remonta a David Hume e posteriormente a Popper, quando escancararam toda sorte de incongruência do pensamento indutivo na determinação de um conhecimento científico legítimo.