A noção nuclear na estrutura do comportamento é a noção de intencionalidade. Dizer que um estado mental tem intencionalidade significa apenas que ele é acerca de alguma coisa. Por exemplo, uma crença é sempre uma crença de que tal e tal coisa acontece, ou o desejo é sempre o desejo de que tal e tal coisa deveria acontecer ou, então, ter lugar. O tencionar, no sentido comum, não tem um papel especial na teoria da intencionalidade. Tencionar fazer alguma coisa é apenas um tipo de intencionalidade juntamente com querer, desejar, esperar, temer e assim por diante. (…) Uma (…) característica que importa notar acerca de tais estados é que, por vezes, fazem acontecer coisas. Por exemplo, se quero ir ao cinema e vou ao cinema, normalmente o meu desejo causará o genuíno evento que representa, o ir ao cinema. Em tais casos, existe uma conexão interna entre a causa e o efeito, porque a causa é uma representação do genuíno estado de coisas que origina. A causa representa e leva a cabo o efeito. Chamo a tais espécies de relações de causa e efeito casos de “causalidade intencional”. A causalidade intencional (…) [é] crucial para a estrutura e para a explicação da acção humana. É, de várias maneiras, inteiramente diferente das explicações da causalidade que surgem nos livros de textos, onde, por exemplo, uma bola de bilhar bate noutra bola de bilhar e a faz mover.
John Searle, Mente Cérebro e Ciência, tr. Artur Morão, Ed. 70, p. 74, 75.