Perguntas sem resposta envolvem, por exemplo, consentimento informado de
‘cobaias’.
Tratamento seletivo só para quem participa também pode ser eticamente
questionável.
Até algo aparentemente inofensivo como pesquisas sobre saúde podem
originar questões morais delicadas quando conduzidas em países pobres,
afirmaram pesquisadores no Boletim da Organização Mundial de Saúde.
O artigo, elaborado por um estudioso da bioética e um geógrafo
populacional da Universidade da Carolina do Norte, exige novas formas de
regulamentar pesquisas. Muitos estudos de longo prazo são realizados em
pequenas regiões da África e da Ásia. Elas levaram a avanços como entender
a importância do aleitamento materno, hidratação oral para a diarréia e
vacinas para sarampo e tétano.
Entre essas pesquisas, podem ser citados o estudo da fertilidade em
Niakhar, Senegal; da diarréia em Matlab, Bangladesh; e da Aids em Rakai,
Uganda. Os autores levantam vários questionamentos sobre o estudo de
pessoas analfabetas, que conhecem pouco sobre ciência e podem não
concordar em participar das pesquisas.
Consentimento
Por exemplo, o consentimento do chefe de família obriga toda a família a
participar? O consentimento de um avô, em um estudo a longo prazo, obriga
até a participação de crianças que ainda nem nasceram?
Se a assistência médica faz parte de uma pesquisa, todas as doenças devem
ser tratadas? Ou só as doenças estudadas? Por quanto tempo? A que custo? A
assistência médica deve ser estendida também aos não participantes? É
justo oferecer melhores condições de saúde do que existe nas regiões
vizinhas?
Se o estudo terminar, por qualquer razão, os pesquisadores podem
simplesmente ir embora? E como os pesquisadores lidam com pessoas
revoltadas com vizinhos que se recusam a participar dos estudos e os
culpam por prejudicar as chances que a região tem de obter cuidados
médicos gratuitos?
Donald G. McNeil Jr.
Do ‘New York Times’