Da autoria do realizador coreano Joon-Ho Bong, Snowpiercer é um filme que revela o que de mais cru existe na natureza humana: o instinto de sobrevivência. Relatando a história de um comboio fantástico que dá ciclicamente a volta ao mundo como forma de gerar energia que mantenha todos os seus passageiros quentes numa era glaciar, Snowpiercer revela a estratificação social que se gera em tempos de desespero pela sobrevivência, com os passageiros considerados como ralé na cauda do comboio, vivendo em condições infra-humanas, ao passo que os eleitos vivem na frente, com todo o conforto.
Esta divisão social é justificada como derivada da necessidade de cada um ocupar um lugar pré-determinado num sistema social que se quer equilibrado. No entanto, tal justificação só serve a quem ocupa uma posição social privilegiada, deixando revoltado todo aquele que sofre na pele a fome, a doença e a miséria. A revolta que se gera pelo questionamento da premissa de que cada um deve saber o seu lugar leva à luta pela igualdade, luta essa que acabará por destruir todo o sistema social de que os intervenientes dependem para sobreviver.
Um excelente filme para gerar a discussão em torno das relações entre indivíduo e sociedade, bem como para questionar o conceito de igualdade. Poderemos, em sociedade, aspirar à igualdade, ou a comunidade apenas sobrevive se cada um se resignar ao seu lugar?