4.8 Redes sociais
A utilização de redes sociais em educação é objeto de um amplo debate, com posições frequentemente extremadas. Tentaremos analisar algumas dessas redes sociais, como o Twitter, e seguidamente trataremos de discutir as vantagens e desvantagens da sua utilização.
O Twitter[1] é um serviço de microblogging que permite a publicação de mensagens curtas, com um número de carateres muito reduzido: apenas 140. Todas as mensagens (“tweets”) publicadas no Twitter são públicas, e mesmo as mensagens trocadas em modo privado podem ser replicadas, “retweetadas”, o que coloca desde logo a questão da privacidade das publicações de cada utilizador. Contudo, estima-se[2] que apenas 10% dos utilizadores sejam responsáveis por 90% dos tweets, o que não contribui para a sua popularidade.
Esta é a funcionalidade principal, ou mais evidente, do Twitter, mas o serviço permite ainda escrever diretamente para alguém (fazendo referência ao nome do utilizador, antecedido do símbolo @ , como em @sergiolagoa , enviar uma mensagem direta em modo privado para uma pessoa específica, como em “D: mensagem“ ou retweetar uma mensagem, como em “RT @sergiolagoa mensagem”.
Pode-se entender o Twitter como um mero instrumento de comunicação, tendo essa função sido referida muitas vezes desde a “Primavera Árabe”, altura em que os cidadãos faziam publicações que relatavam os acontecimentos em curso, independentemente da sua cobertura jornalística[3]. Contudo, há que ter em conta que o acesso ao Twitter pressupõe disponibilidade de rede de internet e aparelhos funcionais, destacando-se a utilização do smartphone pela sua simplicidade com a aplicação (“app”) correspondente[4].
Uma das principais funcionalidades do Twitter é a organização de conteúdos publicados por todos os 300 milhões de utilizadores, bastando usar as “hashtags” correspondentes, como em #filosofia . Ao usar ou pesquisar uma hashtag é possível categorizar todas as mensagens de todos os utilizadores sobre determinado assunto. Um brainstorming através do Twitter, com o uso de uma hashtag, permite indexar cronologicamente todas as ideias e propostas de cada um dos alunos.
Outra das principais funcionalidades do Twitter é a criação de listas[5] das pessoas de quem somos seguidores (“followers”). Isto é muito útil, pois permite seguir em tempo real filósofos, professores e investigadores como A. C. Grayling[6], Alain de Botton[7], Bernard-Henri Lévy[8], Christina Sommers[9], Daniel Dennett[10], David Papineau[11], Desidério Murcho[12], Domingos Faria[13], K. A. Appiah[14], Luciano Floridi[15], Nigel Warburton[16], Patricia Churchland[17], Peter Boghossian[18], Peter Singer[19], Roger Scruton[20], Stephen Law[21], William MacAskill[22], Teresa Marques[23], Vítor Guerreiro[24], etc. Do ponto de vista de um aluno do ensino secundário, isto pode considerar-se praticamente irrelevante, mas para um professor do ensino secundário, que também é, como vimos no Capítulo 1, um investigador, esta é uma funcionalidade preciosa, pois permite um contacto direto com alguns dos mais reputados filósofos ou professores de filosofia da atualidade. Com a mesma funcionalidade podem ser criadas listas de revistas de filosofia, tradicionais ou digitais (tais como Canadian Journal of Philosophy[25]), Daily Nous[26], Ethics Journal[27], Phenomenology News[28], Think Philosophy[29], instituições de ensino superior dedicadas à filosofia (Applied Philosophy[30], Faculdade de Filosofia de Braga[31], Institute of Philosophy[32], London School of Philosophy[33], Oxford Philosophy[34], Philosophy at Stanford[35]), e muitas outras (Aristotelian Society[36], American Philosophical Association[37], APEFP[38], Ask Philosophers[39], Oxford Phenomenology[40], etc..
A utilização do Twitter, se intensiva, implica o recurso a algumas ferramentas muito específicas. Dial2Do[41] é um serviço que permite enviar voice mails do telefone para o Twitter, sob a forma de ficheiro áudio. Bitly[42] é uma das muitas ferramentas que permitem encurtar o URL, de forma a economizar carateres. O Savor Chat[43] é uma aplicação que disponibiliza salas de chat para debates acerca de temas específicos. Twitterfall[44] procede à indexação de tweets por assunto com base em critérios como a localização, o tipo de publicação, etc. Grouptweet[45] é uma ferramenta destinada a comunidades de leitores, organizando em grupos os comentários feitos pelos autores à leitura de um determinado livro; exemplificando, uma mesma conta Twitter é utilizada por todos os alunos da turma que podem colocar questões ou fazer pequenos comentários acerca dos conteúdos. O Twtpoll[46] é, como o nome indica, uma aplicação que elabora “sondagens” ou “inquéritos” que podem ser inseridos no Twitter ou no Facebook, mas a versão gratuita tem várias restrições.
Metaforicamente, o Twitter é um rio que corre indomável, com um imenso manancial de informação. E essa não é a sua única dificuldade.
Uma das principais desvantagens do Twitter é a óbvia limitação de carateres, que pode implicar uma perda da qualidade da informação. Sobre este assunto, o jornal O Globo, no Brasil, atribui a José Saramago esta afirmação:
“Nem sequer é [o Twitter], para mim, uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”. (Saramago)
Note-se que a utilização do Twitter para textos longos é claramente inapropriada, pelo que se pode contornar esta objeção se a sua utilização incluir links para sites com informação mais completa.
Outras das desvantagens é a multiplicidade de aplicações associadas, dispersando professores e alunos por múltiplas plataformas e diferentes serviços, o que dificultaria muito a avaliação de eventuais trabalhos.
A questão que se coloca é a de saber se tanta informação tem, de facto, alguma utilidade educativa ou filosófica.
Essa questão implica algumas outras, não menos relevantes, tais como:
- a) Perante a imensa quantidade de ferramentas associadas ao Twitter, pode um estudante organizar efetivamente o seu estudo a partir do Twitter?
- b) É possível a um professor acompanhar a evolução dos seus alunos em função da enorme quantidade de informação publicada no Twitter?
- c) Os vários serviços acoplados ao Twitter não serão geradores de redundância na informação, com retweets e partilhas automáticas constantes?
- d) Munidos de tal parafernália tecnológica, não seremos tentados a esquecer o essencial para nos concentramos naquilo que é, afinal, acessório?
- e) Especificamente para um professor ou estudante de filosofia, qual é a utilidade do Twitter?
Estas dúvidas são legítimas, mas não invalidam uma utilização educativa do Twitter.
A aplicação educativa do Twitter implica a criação de um ambiente virtual de aprendizagem: unidos na rede, um conjunto de utilizadores com interesses comuns podem trocar, partilhar, divulgar informação relevante. Inserindo todos os alunos de uma turma numa lista do Twitter, seria possível iniciar uma comunidade de aprendizagem com a vantagem de se poder acompanhar em tempo real, através do smartphone, as contribuições de cada um. E a possibilidade de um professor ou estudante seguir organizadamente o Twitter de filósofos, instituições de ensino ou revistas especializadas é algo que não se deve desconsiderar.
Não devemos, pois, menosprezar as possibilidades educativas do Twitter. Afinal, trata-se de uma ferramenta que dá visibilidade online aos seus utilizadores e permite o contacto direto com especialistas na mesma área. E, note-se,
In academies, microblogging is used to offer a backchannel forum during live classes, to send reminders of test dates and project deadlines, to build online community, and to offer notification of class cancellations due to bad weather. As with many communication modes enabled by electronic tools, care must be taken to separate signal from noise. For large classes, filters might be advisable to keep from overwhelming a microblog conversation, but learning teams, smaller seminar classes, and project-based activities could all benefit from the collaborative opportunities offered by these tools. Study groups can offer multiple points of view on a topic, conduct research from different library locations, or send a virtual shout-out to colleagues about a discovery or the results of an experiment so that all members can discuss what that means to the project at hand. By offering a variety of media and increasingly sophisticated tools, microblogging fosters communication for students that seems more natural and enjoyable and could inspire them in new genres of performances or art. (Educause[48])
Existem vários sites de referência na área da educação que apresentam exemplos práticos para a utilização do Twitter na sala de aula. Por exemplo, o site Edudemic[49] apresenta uma lista com dicas de utilização pedagógica do Twitter. Também o site E-learning Industry[50] aponta algumas sugestões didáticas.
Conclui-se que o Twitter é uma ferramenta interessante para projetos colaborativos, que envolvam investigação, sendo utilizado preferencialmente como meio de comunicação. Convém não descurar a existência de outros serviços de microblogging, tais como Plurk[51], Hictu[52], Status[53], etc. Estes serviços podem apresenta funcionalidades diferenciadas, tais como a criação de grupos ou a restrição de visibilidade das publicações, pelo que devem ser igualmente considerados.
A gestão de redes sociais pode tornar-se bastante morosa, levando o utilizador a dedicar grande parte do seu tempo a atualizar, responder a comentários e mensagens ou gerir as contribuições dos outros utilizadores no seu próprio espaço. Por isso, é importante utilizar ferramentas específicas que permitam poupar tempo e gerir a informação. Esse é o papel das ferramentas de gestão de redes sociais, como tais como Hootsuite[54], Tweetdeck[55] e Buffer[56], que permitem ao utilizador gerir várias redes sociais numa mesma plataforma.
Nesta imagem do Hootsuite é possível verificar as atualizações do Twitter[57], do mural pessoal no Facebook[58] e da página associada ao site Páginas de Filosofia[59], também no Facebook[60]. Dependendo das permissões atribuídas ou mediante uma conta profissional, paga, o utilizador pode gerir várias redes sociais, tais como Google +, LinkedIn, WordPress, Instagram ou Youtube. O serviço permite publicar automática e simultaneamente nas redes sociais vinculadas.
O modo de funcionamento do Hootsuite é muito simples. Para publicar um novo tweet, post ou publicação, é possível selecionar as redes sociais em que se pretende efetuar tal publicação, segmentando o público que se pretende atingir. No caso das publicações com links, é possível recorrer a um encurtador de links para poupar carateres, tais como Bitly[61], Tinyurl[62], Ow.ly[63], t.co[64] e goo.gl[65]. É permitida a utilização de hashtags, o agendamento das publicações, anexar ficheiros, inserir imagens e vídeos, etc. A visualização em colunas permite gerir a informação disponível, visualizando feeds, mensagens, comentários, publicações, listas, etc.
Tweetdeck e Buffer são serviços semelhantes. As funcionalidades de cada uma destas plataformas poderá depender da oferta disponível em cada momento e do pagamento da subscrição do serviço. Apenas o Hootsuite e o Buffer possuem, atualmente, aplicações para telemóveis com sistema operativo Android.
[1] Online em https://twitter.com/
[2] Cf. http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/8089508.stm
[3] Cf. http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131213_primavera_arabe_10consequencias_dg
[4] Disponível em https://play.google.com/store/apps/details?id=com.twitter.android&hl=pt_PT
[5] Um exemplo em https://twitter.com/sergiolagoa/lists/filosofia
[6] Cf. https://twitter.com/acgrayling
[7] Cf. https://twitter.com/alaindebotton
[8] Cf. https://twitter.com/BHL
[9] Cf. https://twitter.com/CHSommers
[10] Cf. https://twitter.com/danieldennett
[11] Cf. https://twitter.com/davidpapineau
[12] Cf. https://twitter.com/dmurcho
[13] Cf. https://twitter.com/domingosfaria
[14] Cf. https://twitter.com/KAnthonyAppiah
[15] Cf. https://twitter.com/Floridi
[16] Cf. https://twitter.com/philosophybites
[17] Cf. https://twitter.com/patchurchland
[18] Cf. https://twitter.com/peterboghossian
[19] Cf. https://twitter.com/PeterSinger
[20] Cf. https://twitter.com/Roger_Scruton
[21] Cf. https://twitter.com/stephenlaw60
[22] Cf. https://twitter.com/willmacaskill
[23] Cf. https://twitter.com/teresafmarques
[24] Cf. https://twitter.com/Dugovsky
[25] Cf. https://twitter.com/CJPhilos
[26] Cf. https://twitter.com/DailyNousEditor
[27] Cf. https://twitter.com/EthicsJournal
[28] Cf. https://twitter.com/PhenoNews
[29] Cf. https://twitter.com/tPhilosophia
[30] Cf. https://twitter.com/JAppPhilosophy
[31] Cf. https://twitter.com/congressofacfil
[32] Cf. https://twitter.com/IP_SAS
[33] Cf. https://twitter.com/LSPphilosophers
[34] Cf. https://twitter.com/OUPPhilosophy
[35] Cf. https://twitter.com/StanfordPHIL
[36] Cf. https://twitter.com/Aristotweets
[37] Cf. https://twitter.com/apaphilosophy
[38] Cf. https://twitter.com/apefp2008
[39] Cf. https://twitter.com/AskPhilo
[40] Cf. https://twitter.com/OxPhenomenology
[41] Cf. http://www.dial2do.com/
[43] Cf. https://wwwhatsnew.com/2009/07/13/savor-chat-salas-de-chat-para-grupos-de-twitter-y-facebook/
[44] Cf. https://twitterfall.com/
[45] Cf. https://grouptweet.com/
[46] Cf. https://www.twtpoll.com/
[48] Cf. https://pt.scribd.com/document/53334919/7-Things-You-Should-Know-About-Micro-Blogging
[49] Cf. http://www.edudemic.com/guides/guide-to-twitter/
[50] Cf. https://elearningindustry.com/15-ways-twitter-in-education-students-teachers
[51] Cf. http://www.plurk.com/
[52] Cf. http://www.hictu.com/
[54] Cf. https://hootsuite.com/
[55] Cf. https://tweetdeck.twitter.com/
[57] Cf. https://twitter.com/sergiolagoa
[58] Cf. https://www.facebook.com/slagoa
[59] Cf. http://paginasdefilosofia.net/
[60] Cf. https://www.facebook.com/paginasfilosofia/
[63] Cf. http://ow.ly/
[64] Cf. http://t.co/
[65] Cf. https://goo.gl/