Como elaborar um comentário filosófico

Para elaborar um comentário filosófico a um texto obviamente deves começar por compreender esse texto. A análise e interpretação é o primeiro passo da elaboração do comentário. Nessa análise devemos procurar alguns elementos característicos de todos os textos filosóficos, a saber:

1. Tema – assunto geral sobre o qual se debruça o texto.
2. Problema filosófico – questão específica abordada e respondida no texto.
3. Tese – resposta do autor a essa questão (chamada também conclusão).
4. Premissas – proposições (ideias) que apoiam/sustentam/defendem a resposta do autor.

A esta fase de análise segue-se a fase da discussão da posição do autor. Alguns autores incluem nos seus textos a discussão de contra-argumentos às suas posições, outros não (como é o caso do pequeno excerto de Espinosa que analisaremos). Contra-argumento é uma resposta (tese) contrária à do autor acompanhada de motivos (premissas) que a justifiquem. Assim,
1. Se no texto existe essa discussão deves identificar os contra-argumentos à posição do autor presentes no texto e explicá-los.
2. Se não existe, deves procurar outros textos em que essa discussão se faça e seleccionar contra-argumentos para contrapor à posição defendida pelo autor do texto.
3. Se não puderes procurar outros textos (por exemplo, em situação de exame), deves recorrer aos teus conhecimentos próprios e apresentar esses contra-argumentos.
4. Por fim, deves tomar posição sobre a discussão, isto é, deves afirmar a tua opinião sobre o assunto, mesmo que ela seja coincidente com a de um dos autores analisados.

Neste ponto do nosso trabalho ainda não tens conhecimentos filosóficos para aprofundares a fase da discussão, mas em breve terás. Por isso, para já, analisemos o seguinte texto de Espinosa:

«Tal é a liberdade humana que todos se vangloriam de possuir e que consiste apenas nisto: que os homens têm consciência dos seus desejos e ignoram as causas que os determinam. É assim que uma criança crê desejar livremente o leite e um jovem irritado crê que é livre ao querer vingar-se ou fugir se é medroso. Um embriagado crê dizer por livre decisão da sua alma o que, regressado à sobriedade, teria querido calar. E ainda que constatem que estão divididos entre dois desejos contrários, muitas vezes vendo o melhor fazem o pior; apesar disso, os homens crêem, no entanto, que são livres

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