Assim, a sequência da argumentação leva-nos a concluir que, não podendo o vício e a virtude descobrir-se apenas pela razão, ou por uma comparação de ideias, deve ser mediante alguma impressão ou sentimento, por eles ocasionado, que podemos estabelecer a diferença entre eles. As nossas decisões relativas à rectidão e depravação morais são evidentemente percepções; e como todas as percepções ou são impressões ou ideias, a exclusão de umas é argumento convincente em favor das outras. A moral é portanto mais propriamente sentida do que julgada; ainda que este sentir ou sentimento seja comummente tão suave e moderado que somos levados a confundi-lo com uma ideia, segundo o nosso hábito corrente de tomar como idênticas as coisas que têm entre si uma grande semelhança.
A questão seguinte é saber de que natureza são estas impressões e de que modo actuam sobre nós. Aqui não podemos ficar muito tempo a hesitar, mas temos que afirmar que a impressão que provém da virtude é agradável e a que provém do vício é desagradável. A todo o instante a experiência deve convencer-nos disto. Não há espectáculo mais belo e agradável do que uma acção nobre e generosa, e nenhum desperta em nós mais repulsa do que uma acção cruel e traiçoeira. (…)
Uma acção, um sentimento ou um carácter é virtuoso ou vicioso, porquê? Porque a sua vista causa um prazer ou um mal-estar de um género particular.
David Hume, Tratado da natureza humana, tr Serafim S. Fontes, Gulbenkian, pp. 543, 544.
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