Dizem que ordenar que as pessoas ajam sempre com o objectivo de promover os interesses gerais da sociedade é exigir demasiado. Mas dizer isto é perceber mal o próprio significado de um padrão moral e confundir a regra da acção com o seu motivo. Compete à ética dizer-nos quais são os nossos deveres, ou por meio de que teste podemos conhecê-los, mas nenhum sistema de ética exige que o único motivo do que fazemos seja o sentimento do dever; pelo contrário, noventa e nove centésimos de todas as nossas acções são realizadas por outros motivos – e bem realizadas, se a regra do dever não as condenar. É extremamente injusto para o utilitarismo que esta incompreensão específica suscite uma objecção, visto que os moralistas utilitaristas foram além de quase todos os outros ao afirmar que o motivo, embora seja muito relevante para o valor do agente, é irrelevante para a moralidade da acção. Aquele que salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente certo seja o seu motivo o dever, seja a esperança de ser pago pelo incómodo (…).
Stuart Mill, Utilitarismo, tr. Pedro Galvão, Porto Editora, pp. 58, 59.
Facebook Comments
Related
Published by Sérgio Lagoa
Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 1995, é Professor no Ensino Secundário desde 1994/5 e Formador de professores, com o registo CCPFC/RFO-38329/17.
Mestre em Ensino de Filosofia (Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
Mestre em Pedagogia do e-learning (Universidade Aberta).
Site pessoal: http://sergiolagoa.wordpress.com .
Coeditor do site Mil Folhas -- http://www.milfolhas.net
View all posts by Sérgio Lagoa