O diálogo intercultural

Na nossa história mais remota, tão longínqua no tempo quanto é possível, os indivíduos mantinham obediência em relação ao seu grupo tribal directo, que contaria com não mais de dez ou vinte indivíduos, todos ligados por consanguinidade.À medida que o tempo foi passando, a necessidade de comportamento cooperativo – na caça de animais corpulentos ou de grandes manadas, na agricultura e no desenvolvimento das cidades – agregou os seres humanos em grupos cada vez maiores. O grupo que se identificava com a unidade tribal aumentou em cada fase desta evolução. Hoje, um instante particular na história de quatro biliões e meio de anos da Terra e na história de vários milhares de anos da espécie humana, a maioria dos seres humanos tem a sua principal fidelidade para com a nação-estado.Muitos dirigentes visionários idealizaram uma época em que a fidelidade de um ser humano individual não será para com a sua nação-estado particular, religião, raça ou grupo económico, mas para com a espécie humana como um todo: quando o bem-estar de um ser humano de outro sexo, raça, religião ou crença política a dez mil milhas de nós nos for tão valioso como o de um nosso irmão ou vizinho. A tendência é nesta direcção, mas angustiantemente lenta. Há sérias dúvidas se uma auto-identificação completa da espécie humana poderá ser atingida antes de nos destruirmos com as forças tecnológicas que a nossa inteligência libertou.

Carl Sagan, As ligações cósmicas, Gradiva

Facebook Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.