O indutivismo de Bacon

Na obra Novum Organum – que já no título se contrapõe ao ‘velho’ Organon de Aristóteles –, Bacon critica os quatro ídolos responsáveis pelo insucesso da ciência. Os ‘ídolos da tribo’ referem-se às imperfeições do intelecto, inerentes a toda ‘tribo’ humana, que levam os homens a acreditarem ingenuamente nos dados dos sentidos ou em aspectos da realidade que lhes são convenientes.

Os ‘ídolos da caverna’ correspondem à predisposição do intelecto de cada indivíduo, que, como os prisioneiros do ‘mito da caverna’ de Platão, toma o seu mundo particular por verdadeira realidade. Já os ‘ídolos do foro’ apontam para os problemas da comunicação entre os homens: as palavras são tidas como idênticas às coisas que designam e, além disso, raramente há um acordo sobre o que significam. Por fim, os ‘ídolos do teatro’ indicam as doutrinas filosóficas que, como o teatro, não passam de invencionices especulativas.

Contra esses ídolos, Bacon propõe o método experimental. Não qualquer experiência, pois isso sempre foi feito, mas experiências conduzidas por um rigoroso método. Por exemplo, o fenómeno do calor: para estudá-lo é preciso que se elabore uma tabela exaustiva, escrevendo as várias circunstâncias em que ele se verifica (a incidência dos raios solares, o sangue no corpo, etc.). Mas isso não basta. A investigação também requer o exame dos casos em que o fenómeno não ocorre (raios da Lua, sangue em cadáveres, etc.). Por fim, deve-se comparar os casos de ocorrência e de não-ocorrência do calor, para estabelecer as relações possíveis entre ambos. O exame minucioso de vários casos particulares e da relação entre eles permite formular uma conclusão geral, que é o conhecimento: tal procedimento denomina-se indução.

Toda essa cuidadosa investigação sobre os fenómenos e as circunstâncias em que ocorrem não se destina apenas ao aprimoramento do conhecimento. Para Bacon, a experiência é antes de tudo a possibilidade de utilizar as forças da natureza para o proveito do homem. Conhecer as condições de ocorrência de um fenómeno é então conhecer as possibilidades da sua manipulação. Nessa medida, a instauração de um novo espírito científico, com o seu método rigoroso, é a tentativa de fazer com que a Nova Atlântida deixe de ser utopia, um mero sonho de nenhum lugar. O desenvolvimento posterior da ciência, embora nem sempre favorável ao homem, iria provar que a famosa expressão de Bacon tinha, de certo modo, fundamento: ‘Saber é poder’.

AA.VV., História do Pensamento, Volume 2, Editora Nova Cult

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