Antes dos Sofistas, os educadores da Grécia eram os poetas. Só no momento em que a recitação de Homero já não constitui o único alimento cultural dos Gregos é que a sofística poderá nascer; este momento coincidirá, como demonstrou Untersteiner, com a crise da civilização aristocrática. Mas são as instituições democráticas que permitirão o progresso da sofística, tornando-a de alguma maneira indispensável: a conquista do poder exige, de agora em diante, o perfeito domínio da linguagem e da argumentação: não se trata apenas de ordenar, há também que persuadir e explicar. É por isso que os Sofistas, como nota Jaeger,, que “saíam todos da classe média”, foram, de uma maneira geral, mais favoráveis, parece, ao regime democrático. E claro que os seus alunos mais brilhantes foram aristocratas, mas foi porque a democracia escolheu, frequentemente, os seus chefes entre os aristocratas, e os jovens nobres que que frequentavam os sofistas eram os que aceitaram submeter-se às regras das instituições democráticas; os outros desinteressavam-se da vida política.
Por outro lado, os Sofistas foram profissionais do saber; os primeiros fizeram da ciência e do ensino o seu ofício e meio de subsistência; neste sentido, inauguraram o estatuto social do intelectual moderno. Parecem ter-se interessado por todos os ramos do saber, da gramática às matemáticas, mas estes “filómatos” não procuravam a transmissão de um saber teórico: visavam a formação política de cidadãos escolhidos.
Finalmente, foram pensadores itinerantes, encontrando, apesar de tudo em Atenas o teatro mais prestigiado do seu sucesso. Ensinando de cidade em cidade, adquirem da vida itinerante um sentido penetrante do relativismo, o primeiro exercício do pensamento crítico. O seu estatuto, de alguma maneira internacional, fê-los sair do quadro apertado da cidade e explica a descoberta do individualismo. Favorecem, de certo modo fisicamente, a circulação das ideias, e é talvez este trabalho de pôr em circulação que faz com que Platão, para os caracterizar, empregue de preferência metáforas comerciais e monetárias. Garnet mostra exactamente que, entre as definições platónicas do sofista, no Sofista haja três, isto é, metade, que se relacionam com a actividade mercantil.
Gilbert Romeyer-Dherbey, Os Sofistas, Edições 70
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