A primeira pessoa submetida a um transplante de rosto nos Estados Unidos
–e a quarta no mundo– saiu do hospital no último dia 5. A cirurgia
permitiu que a mulher, que teve a identidade preservada, voltasse a sentir
cheiro de hambúrguer e a tomar café, ações simples comprometidas por um
acidente. Michel Spingler/AP
Isabelle Dinoire em foto de fevereiro de 2006; paciente
americana perdeu o nariz, o lábio superior até o rosto
Os resultados do transplante foram apresentados ontem em Chicago, durante
a reunião 175 da AAAS (Sociedade Americana para o Avanço da Ciência), pela
médica e pesquisadora de origem polonesa Maria Siemionow, que realizou a
operação na Clínica Cleveland (EUA).
“Ela simplesmente não podia tomar banho de chuveiro nem sentir cheiro
porque não tinha nariz. Ela voltou a ter um rosto para poder ver o mundo”,
disse Siemionow à Folha, logo após sua palestra. De acordo com ela, a
identidade da paciente será mantida em sigilo por questões éticas.
Segundo Siemionow, os Estados Unidos fizeram somente agora um transplante
de rosto –o primeiro no mundo, da francesa Isabelle Dinoire, é de 2005–
porque, antes, ela não havia conseguido aprovação das instituições de
bioética.
A paciente americana perdeu o nariz, o palato (osso do céu da boca) e o
lábio superior em um acidente. “Todas as estruturas transplantadas vieram
de um cadáver”, afirmou Siemionow. Para voltar a ter um rosto, a mulher
teve que passar por tratamento psicológico. No total, foram transplantados
196 centímetros quadrados de tecido.
Estímulos em ordem
A operação ocorreu em dezembro. Foram 22 horas de cirurgia, com a
participação de 14 médicos e 30 assistentes. Além de voltar a sentir
cheiros e se alimentar, a paciente também voltou a respirar sozinha.
Todos os receptores, tanto os do nariz, para o cheiro, quanto os da boca,
para o gosto, estão funcionando bem, disse Siemionow, que está “há 20 anos
se preparando para essa operação”.
Agora, a clínica trabalha em outras linhas de pesquisa, para resolver
novos problemas, como transplante de rosto de pessoas que tiveram câncer
-pacientes que apresentam maiores chances de desenvolver rejeição a um
novo tipo de tecido