Racionalismo e Empirismo

Na última vez que estivemos aqui, falei sobre Descartes e Espinosa. Concordámos que têm uma coisa importante em comum, são ambos racionalistas típicos.

– E um racionalista é uma pessoa que acredita na importância da razão.

– Sim, um racionalista acredita na razão como fonte do saber. Acredita frequentemente em certas ideias inatas do homem – que existem no homem independentemente de qualquer experiência. E quanto mais clara é essa ideia ou conceção, mais certo é que corresponda a um dado real. Ainda te lembras que Descartes tinha uma ideia clara e nítida de um “ser perfeito”. A partir desta ideia, ele concluiu que Deus existe realmente.

– Eu não sou uma pessoa esquecida.

– Este pensamento racionalista era típico da filosofia do século XVII. Na Idade Média, também estava fortemente implantado e conhecemo-lo ainda de Platão e de Sócrates. Mas, no século XVIII, foi exposto a uma crítica cada vez mais forte. Vários filósofos defenderam a ideia de que não temos conteúdos na consciência, enquanto não temos nenhuma experiência sensível. Esta ideia é designada por empirismo.

– E tu queres falar sobre estes empiristas?

– Vou tentar. Os empiristas mais importantes foram Locke, Berkeley e Hunie, todos eles britânicos. Os principais racionalistas do século XVII foram o francês Descartes, o holandês Espinosa e o alemão Leibni-. Por isso, costumamos fazer a distinção entre o empirismo inglês e o racionalismo continental.

– Por mim, está bem, mas são muitas palavras. Podes repetir o que se entende por empirismo?

– Um empirista defende que todo o saber provém daquilo que os sentidos nos transmitem. Mas vamos falar de um filósofo de cada vez.

– Fala.

– O primeiro foi o inglês John Locke, que viveu entre 1632 e 1704. A sua obra mais importante chama-se An Essay Concerning Human Understanding, Ensaio Sobre o Entendimento Humano, e foi publicada em 1690.

(…) Locke está convencido de que todos os nossos pensamentos e ideias são apenas um reflexo daquilo de que já tivemos sensações. Antes de sentirmos alguma coisa, a nossa consciência é como uma “tábua rasa” – uma “ardósia em branco”. Antes de sentirmos alguma coisa, a nossa consciência está tão vazia como um quadro antes de o professor entrar na sala de aula. Locke compara também a consciência a uma sala não mobilada. Mas depois vêm as sensações. Vemos o mundo à nossa volta, cheiramos, saboreamos, tateamos e ouvimos. Deste modo, surgem as ideias simples. As ideias simples são trabalhadas por meio da reflexão e meditação, crença e dúvida. Só depois a mente constrói ideias complexas ou secundárias. (…)

Enquanto os filósofos racionalistas privilegiaram o modelo das matemáticas, os empiristas adotam as ciências experimentais como modelo do conhecimento e justificam a sua rejeição da existência na razão de ideias inatas a partir da própria evolução do pensamento.

 

Jostein Gaarder, O Mundo de Sofia, Uma Aventura na Filosofia, Editorial Presença

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