Kant vê os talentos do espírito e as qualidades de temperamento como dons da natureza, ao passo que uma boa vontade não é um dom. É algo adquirido; resulta da conquista de um carácter, às vezes por um tipo de conversão que persiste quando fortalecida pelo cultivo das virtudes e dos modos de pensamento e sentimento que a sustentam. (…)
Ele não considera a filosofia moral o estudo de como alcançar a felicidade, (…) mas antes o estudo de como devemos agir para que sejamos dignos da felicidade que efectivamente alcançamos. (…)
Uma boa vontade é sempre boa em si mesma, sob todas as condições; ao passo que tudo o mais é bom apenas sob certas condições. (…) A felicidade, ou a satisfação racionalmente ordenada de nossos desejos naturais, pode ser boa em si mesma (quando os fins desejados e realizados são permissíveis). Mas mesmo nossa felicidade, ou a nossa apreciação da pintura e da música só são plenamente boas se formos dignos delas, ou seja, se tivermos uma boa vontade.
John Rawls, História da filosofia moral, tr. Ana Aguiar Cotrim, Martins Fontes, pp. 178-180
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