Reacções intuitivas em ética

Se somos filósofos tem de haver alturas em que reflectimos criticamente sobre as nossas intuições – na verdade, não só os filósofos, mas também as pessoas ponderadas, o deviam fazer. Se nos limitássemos simplesmente a aceitar os nossos sentimentos sem o tipo de reflexão suplementar que acabamos de desenvolver, não conseguiríamos decidir quais das nossas inclinações intuitivas devemos aceitar e adoptar e a quais nos devemos opor. (…) O facto de as respostas intuitivas serem amplamente aceites não constitui prova da sua justificação. Não se trata de insights racionais sobre o domínio da verdade moral. Algumas intuições – de um modo geral, as que partilhamos com outros elementos da nossa espécie, independentemente do contexto cultural – são reacções que, durante a maior parte da história da nossa evolução, se revelaram adequadas à sobrevivência e à reprodução de seres iguais a nós. Outras reacções intuitivas – de um modo geral, as que partilhamos com os seres humanos de culturas diferentes – devem-se à nossa história cultural particular. Nem a base biológica nem a base cultural das nossas reacções intuitivas nos fornecem uma razão sólida para as aceitarmos como base da moral.
Peter Singer, Um mundo só – a ética da globalização, Gradiva, p. 224.
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