Escrevo à maneira de muitos trabalhos filosóficos contemporâneos em epistemologia ou metafísica: há argumentos elaborados, afirmações refutadas por contra-exemplos improváveis, teses surpreendentes, quebra-cabeças, condições estruturais abstractas, desafios para encontrar outra teoria que se adapte a um âmbito específico de casos, conclusões chocantes e por aí em diante. Embora isto contribua (espero) para o interesse e entusiasmo intelectuais, alguns poderão sentir que a verdade acerca da ética e da filosofia política é demasiado séria e importante para que a possamos obter com instrumentos tão «vistosos». Não obstante, pode dar-se o caso de a correcção em ética não se encontrar naquilo que naturalmente pensamos.
Robert Nozick – argumentação filosófica
Não são precisos argumentos elaborados para codificar a perspectiva recebida ou explicar princípios aceites. Considera-se uma objecção a outras perspectivas a mera indicação de que estas estão em conflito com a perspectiva que os leitores desejam à partida aceitar. Mas não se pode argumentar a favor de uma perspectiva diferente da que os leitores receberam indicando apenas que esta entra em conflito com aquela! Ao invés. Temos de sujeitar a perspectiva recebida à mais exigente análise e esforço intelectuais, por meio de contra-argumentos, do escrutínio dos seus pressupostos e da apresentação de um leque de situações possíveis em que até os defensores da perspectiva em causa se sintam incomodados com as suas consequências.
Mesmo o leitor que não se deixe convencer pelos meus argumentos concordará que, ao esforçar-se por manter e defender a sua própria perspectiva, a clarificou e aprofundou. Além disso, agrada-me pensar que a honestidade intelectual exige, pelo menos ocasionalmente, que nos esforcemos por confrontar argumentos poderosos contrários às nossas opiniões. De que outra maneira podemos evitar a persistência no erro?
Robert Nozick, Anarquia, Estado e utopia, tr. Vítor Guerreiro, Edições 70, pp. 22, 23.
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