A existência destes dois lados [público/privado] (como o facto de podermos pertencer a várias comunidades e, assim, termos várias obrigações morais em conflito, bem como conflitos entre obrigações morais e compromissos privados) dá origem a dilemas. Teremos esses dilemas sempre connosco e nunca hão-de ser resolvidos através do recurso a outro conjunto, um conjunto mais elevado de obrigações filosóficas que um tribunal filosófico poderá descobrir e aplicar. Tal como não há nada que valide o vocabulário final de uma pessoa ou de uma cultura, não há nada implícito nesse vocabulário que dite a forma de o tecer de novo uma vez que seja posto à prova. Tudo o que podemos fazer é trabalhar com o vocabulário final que temos, ficando de ouvidos abertos, atentos a indicações quanto ao modo de o alargar ou rever.
Rorty, Contingência, ironia e solidariedade, tr. Nuno F. da Fonseca, Editorial Presença, pp. 244, 245.
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