Comecemos com o tipo [de subjectivismo] grosseiro: o qualificativo relativista – «para mim» ou «para nós» – tornou-se quase um acto reflexo e, com alguma base vagamente filosófica, generaliza-se frequentemente, interpretando-se a maior parte das discordâncias profundas em matéria de crenças ou métodos como o resultado de diferentes quadros de referência, formas de pensamento, práticas ou formas de vida, entre as quais não há maneira objectiva de ajuizar, mas apenas uma luta pelo poder. (A ideia de que tudo é construído pertence à mesma família.) Visto que todas as justificações acabam naquilo que as pessoas que as aceitam acham aceitável e sem necessidade de justificação, pensa-se que nenhuma conclusão pode reclamar qualquer validade fora da comunidade cuja aceitação a valida.
A ideia de razão, pelo contrário, refere-se a métodos de justificação não localizados e não relativos – métodos que distinguem as inferências universalmente legítimas das ilegítimas e que procuram alcançar a verdade num sentido não relativo. Esses métodos podem falhar, mas o seu objectivo é esse; e as justificações racionais, mesmo que acabem algures, não podem acabar no qualificativo «para mim» se quiserem reclamar a sua universalidade.
O carácter essencial do raciocínio é a sua generalidade. Se tenho razões para concluir, para acreditar ou para querer algo, não podem ser razões só para mim – elas têm de justificar qualquer outra pessoa que estivesse no meu lugar a fazer o mesmo.
Thomas Nagel, A última palavra, tr. Desidério Murcho, Gradiva, pp. 12, 13.
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