A ideia de uma inteligência artificial, capaz de se reprogramar a si mesma, de aprender e adaptar ao meio é algo cada vez mais próximo da realidade. De tal forma se está a avançar nesse sentido que ainda este ano a comunidade internacional de cientistas e investigadores, dentre os quais Stephen Hawking, se reuniu para dar voz a uma carta aberta na qual se alertava para os riscos de uma IA. Tal missiva não pedia o fim da investigação, mas lembrava que qualquer projeto nesta área deve sempre ter como prioridade o bem-estar da Humanidade, prevendo não só os benefícios mas igualmente as consequências do comportamento de uma máquina inteligente.
Conhecer a mente humana e o modo como se gera, bem como a sua sede tem sido o objectivo de filósofos, neurólogos, cientistas e investigadores, como António Damásio ou John Searle. O que é a mente? Trata-se do produto de redes neuronais, reduzindo-se a sinapses, neurotransmissores, campos electromagnéticos? Ou há ALGO mais para lá da vertente orgânica? Pode a identidade de cada um ser reduzida à biologia ou tem de estar associada a uma alma, a uma dimensão espiritual? Até que ponto pode ser reduzida a muitos terabytes de informação para poder ser alvo de upload?
O filme Transcendence, protagonizado por Johnny Depp e realizado por Wally Pfister, de 2014, retrata esta problemática. Will Caster (Johnny Depp) é um investigador na área da IA e, na iminência da sua morte, a esposa (interpretada por Rebecca Hall) faz o upload dos dados da sua mente para a IA em que já ambos trabalhavam. O problema surge depois, quando se trata de distinguir o que de Caster há na IA e até que ponto a consciência emergente é ou não pacífica. As consequências derivadas desta fusão entre software e memória humana suscitam uma reflexão filosófica que pode ser desenvolvida tendo em conta os temas e problemas da sociedade contemporânea e da cultura científico-tecnológica.