Uma disciplina que esteve em risco de extinção no secundário

Clara Viana

08/02/2015 – 12:26

Exame de Filosofia foi reintroduzido em 2012.
Em 2012, quando o exame nacional de Filosofia foi reintroduzido no final do 11.º ano, depois de uma supressão de quatro anos, a média ficou-se pelos 7,8 valores (numa escala de 0 a 20). Em 2014 subiu para 9,7.

A disciplina de Filosofia, que integra a componente geral do currículo do ensino secundário, é obrigatória para todos os alunos do 10.º e 11.º ano, mas a realização do exame é opcional.

Os alunos do secundário realizam obrigatoriamente quatro exames, dois no 11.º ano e dois no 12.º ano. No 11.º ano podem optar por realizar o exame de Filosofia em vez da prova de uma das duas disciplinas bienais da componente específica (por exemplo, em vez de Biologia e Geologia ou Física e Química A).

No 12.º ano a disciplina de Filosofia passou a ser opcional há já mais de uma década, o que levou à sua quase extinção. O exame neste ano de escolaridade, que em tempos chegou a ser obrigatório para todos os alunos de Humanidades, foi eliminado, tendo por isso também desaparecido do leque das provas de ingresso pedidas pelas faculdades.

O exame chegou a ser pedido como prova de ingresso em cerca de 300 cursos universitários, lembra Rolando Almeida, professor e autor do blogue A Filosofia no Ensino Secundário. Com a sua reintrodução no 11.º ano, voltou a partir do ano passado a figurar na lista das provas de ingresso de cerca de 100 cursos.

Este vaivém tem tido “um impacto muito negativo na forma como a disciplina de Filosofia é encarada tanto pelos alunos, como pelos pais ou professores”, comenta aquele professor, que considera também ser necessário introduzir “algumas reformas” no programa da disciplina, de 2001. “Não existe no programa um único conteúdo preciso, mas apenas temas a explorar”, o que também dificulta a sua articulação com um e exame nacional, aponta.

Pedro Galvão, dirigente da Sociedade Portuguesa de Filosofia (SPF), corrobora: “No plano dos conteúdos o programa actual acaba por ser tão vago que seria absolutamente impossível conceber um exame nacional com qualidade apenas a partir dele”. Por isso, acrescenta, com a reintrodução do exame no 11.º ano, o programa “ teve de ser complementado com um documento de Orientações, que define melhor os problemas, as teorias e os autores que os alunos têm e estudar”, o que tem resultado num “ensino com mais qualidade”.

Galvão considera que “o facto de existir um exame incentiva todos, professores e alunos, a trabalhar de uma forma mais rigorosa”, mas alerta para “o perigo de transformar as aulas de Filosofia num simples treito par o exame”, como já acontece noutras disciplinas. Para que tal não se passe, defende, “é preciso que o exame não se torne repetitivo e, portanto, demasiado prevísivel e também que, cada vez mais, dê relevo a questões que ponham os alunos a pensar com autonomia e sentido crítico”.

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