Da violência à persuasão, da lei do mais forte à argumentação

«Aquilo que é excepcional (…) e que constitui um marco na história da humanidade, é que se tivesse permitido, em matérias fundamentais reservadas à tradição religiosa e aos seus porta-palavra, que o uso da força pudesse ter sido substituído pelo da persuasão, que se tenham podido colocar questões e receber explicações, avançar opiniões e submetê-las à crítica de outrem. O recurso ao logos, cuja força convincente dispensaria o recurso à força física, permitindo substituir a submissão pelo acordo, constituiu, desde Sócrates, o ideal secular da Filosofia. Este ideal de racionalidade esteve associado, desde então, à busca individual da sabedoria e à comunhão de espíritos fundada sobre o saber. Como, graças à razão, dominar as paixões e evitar a violência? Quais são as verdades e os valores sobre os quais seria possível esperar o acordo de todos os seres dotados de razão? Eis o ideal desejado de todos os pensadores da grande tradição filosófica do Ocidente.»

Chaïm Perelman, Le Champ de l’Argumentation, Éditions de L’Université, Bruxelles, 1970

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