James Rachels – O problema da identidade pessoal

Suponha-se que os cientistas inventaram uma máquina que pode fazer uma cópia perfeita de tudo. Esta máquina examina a estrutura atómica de um objecto e depois reúne átomos idênticos, organizando-os segundo o mesmo padrão. O Duplicador já copiou com sucesso vários objectos, tendo feito primeiro clipes e cinzeiros, e depois um computador que funciona perfeitamente. (…) Agora os cientistas querem conduzir um teste final. Querem duplicar um ser humano e escolheram-nos a nós para essa honra. Se concordarmos, será feita uma cópia nossa que terá as nossas memórias, crenças, desejos e personalidade. Ela acreditará que somos nós e ninguém – nem mesmo os nossos amigos e familiares mais próximos – será capaz de notar a diferença. Para todos os efeitos práticos, ela será nós. Há apenas um senão: não podemos ter dois de nós por aí, pelo que, depois do procedimento estar concluído, o «eu» original será destruído e o novo «eu» continuará a viver como antes. Pagar-nos-ão um milhão de euros pelo incómodo.

Aceitaríamos a proposta?

James Rachels, Problemas da filosofia, tr. Pedro Galvão, Gradiva, p. 94.
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3 Comments

  1. Não se trata da mesma pessoa pois um clone tem sempre, independentemente da identidade genética, uma identidade social distinta do “original”. Se eu morrer, morro totalmente, pois a vida do me clone é a vida DELE, e não a minha.

  2. Se copiou “as nossas memórias, crenças, desejos e personalidade” é porque copiou a impressão cultural, isto é, copiou as marcas impressas no corpo pela experiência. Logo não é cópia por clonagem.
    O indivíduo é, no instante “T”, o resultado da sua herança genética adicionado às impressões adquiridas durante a experiência de viver, desde t=0 até t=T.

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