Suponha-se que os cientistas inventaram uma máquina que pode fazer uma cópia perfeita de tudo. Esta máquina examina a estrutura atómica de um objecto e depois reúne átomos idênticos, organizando-os segundo o mesmo padrão. O Duplicador já copiou com sucesso vários objectos, tendo feito primeiro clipes e cinzeiros, e depois um computador que funciona perfeitamente. (…) Agora os cientistas querem conduzir um teste final. Querem duplicar um ser humano e escolheram-nos a nós para essa honra. Se concordarmos, será feita uma cópia nossa que terá as nossas memórias, crenças, desejos e personalidade. Ela acreditará que somos nós e ninguém – nem mesmo os nossos amigos e familiares mais próximos – será capaz de notar a diferença. Para todos os efeitos práticos, ela será nós. Há apenas um senão: não podemos ter dois de nós por aí, pelo que, depois do procedimento estar concluído, o «eu» original será destruído e o novo «eu» continuará a viver como antes. Pagar-nos-ão um milhão de euros pelo incómodo.
Aceitaríamos a proposta?
James Rachels, Problemas da filosofia, tr. Pedro Galvão, Gradiva, p. 94.
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Esses dois são eu e novo-eu. Pelo que é preferível ser um novo-eu com 1 mlhão no bolso do que um eu teso, como eu sou!
Não se trata da mesma pessoa pois um clone tem sempre, independentemente da identidade genética, uma identidade social distinta do “original”. Se eu morrer, morro totalmente, pois a vida do me clone é a vida DELE, e não a minha.
Se copiou “as nossas memórias, crenças, desejos e personalidade” é porque copiou a impressão cultural, isto é, copiou as marcas impressas no corpo pela experiência. Logo não é cópia por clonagem. O indivíduo é, no instante “T”, o resultado da sua herança genética adicionado às impressões adquiridas durante a experiência de viver, desde t=0 até t=T.
Esses dois são eu e novo-eu. Pelo que é preferível ser um novo-eu com 1 mlhão no bolso do que um eu teso, como eu sou!
Não se trata da mesma pessoa pois um clone tem sempre, independentemente da identidade genética, uma identidade social distinta do “original”. Se eu morrer, morro totalmente, pois a vida do me clone é a vida DELE, e não a minha.
Se copiou “as nossas memórias, crenças, desejos e personalidade” é porque copiou a impressão cultural, isto é, copiou as marcas impressas no corpo pela experiência. Logo não é cópia por clonagem.
O indivíduo é, no instante “T”, o resultado da sua herança genética adicionado às impressões adquiridas durante a experiência de viver, desde t=0 até t=T.